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A Concepção dos Professores no Ensino Religioso

Olair Cambruzzi Carneiro[1]

 

Resumo

A escola compreende a responsabilidade de desenvolver as potencialidades dos educandos visando uma formação integral dos cidadãos conscientes e responsáveis por seus próprios atos, por esse motivo o intuito do estudo apresentado é refletir o papel do educador frente os desafios da sociedade atual e em relação ao processo de construção do conhecimento. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de autores como, CATÃO (1995); GAARDER (2000), entre outros, procurando enfatizar a importância da atribuição da escola de modo a contribuir no processo educativo. Conclui-se a importância do Ensino Religioso como um processo global, integral, que reúne os diversos níveis do conhecimento e garantir que o processo educativo aconteça com qualidade.

Palavras-chave: Professor. Aluno. Ensino. Religioso.

 

Abstract

The school understands the responsibility to develop the potential of students seeking comprehensive training of concerned citizens and responsible for their own actions, therefore the aim of the present study is to reflect the role of the educator in the challenges of today's society and in relation to the process construction of knowledge. We performed a literature search of the contributions of authors such as, CATÃO (1995); Gaarder (2000), among others, trying to emphasize the importance of school assignment so as to contribute to the educational process. In conclusion the importance of Religious Education as a global, comprehensive process that brings together the various levels of knowledge and ensure that the educational process happens with quality.

Keywords: Teacher. Student. Education. Religious.

 

Introdução

O presente trabalho tem como tema não só a Concepção do professor no Ensino Religioso frente à prática pedagógica na relação professor e aluno, mas também no processo ensino aprendizagem.

Frente a este contexto levantaram-se questões que direcionam este trabalho:

·  Os docentes possuem comprometimento em relação ao processo ensino aprendizagem na disciplina de Ensino Religioso?

·  Os educadores e educandos possuem relacionamentos afetivos no cotidiano escolar e fora dele?

Quando se refere à relação professor aluno no processo ensino aprendizagem na disciplina de ensino religioso, é necessário um olhar diferenciado das outras áreas do saber. Nesta concepção, o professor como mediador do conhecimento deve repensar a sua prática, pois se tratando de religião cada aluno é ímpar no quesito, foi então que surgiu a imprescindibilidade de compreender o envolvimento dos educadores no espaço escolar, acompanhando o desenvolvimento intelectual e buscando entender suas necessidades.

Diversos autores mostram a importância da afetividade entre as pessoas.

Segundo HAAG:

Afetivo, ou seja, há em cada ser humano sentimentos e sensibilidade próprios. O sentir é universal, mas a forma de sentir é única e especial em cada indivíduo. Os sentimentos humanos são muito complexos e variam de pessoa para pessoas e que torna as questões éticas muito difíceis de serem entendidas e solucionadas (HAAG, 2000, p.190-191.)

Sendo assim, essa pesquisa objetiva analisar a concepção dos professores de Ensino Religioso na relação professor/aluno.

O presente estudo da realidade sobre a pesquisa bibliográfica é baseada em autores que dão sustentação, ressaltando a parte prática do referido trabalho.

O trabalho de pesquisa foi fundamentado nas concepções de alguns autores como: CATÃO (1995) GAARDER (2000) LDB (1997) HAAG (2000)

 

Desenvolvimento

Com a evolução da sociedade humana, a educação possibilitou o acesso ao conhecimento, pois é através desse que se torna possível o aperfeiçoamento do indivíduo enquanto pessoa, através de valores e atitudes, num processo de desenvolvimento global entre educadores e educando. O mestre tem a missão de integrar o aluno dentro de uma visão de totalidade dos vários níveis do conhecimento, como o sensorial, o intuitivo, o afetivo, o racional e o religioso.

As atitudes do educador em relação ao educando é muito importante, pois o aluno confia no professor e coloca suas expectativas de aprendizagem, já o formador motiva o aluno a estudar e orienta-o, por conseguinte é estabelecida uma relação afetiva entre ambos, tornando o aprendizado mais prazeroso.

Segundo Hamachek (1979, p.197):

“Os professores devem ajudar os alunos a conhecer suas forças e possibilidades ou podem lembrar os estudantes reiteradas vezes de suas fraquezas e falhas.”

A educação das mais diferentes formas, parâmetros e definições, converge para o desenvolvimento pleno do sujeito humano na sociedade. Nesta ocasião o Ensino Religioso fundamenta a sua natureza, na qual o homem para adquirir seu estado de realização integral necessita da perfeição religiosa também.

Dentre os inúmeros instrumentos de que dispõe a sociedade para alcançar tão elevado objetivo está a religião, pois somente quando se coloca a questão da transcendência, a que se denomina Deus, encontra a comunidade humana e cada uma das pessoas individualmente, respostas às perguntas fundamentais que todos se colocam diante da vida. (CATÃO 1995)

O Estado a quem, hoje, se confia à educação da maior parte da sociedade, reconhece a necessidade de uma educação religiosa, no entanto sem dizer como realizá-la. Porém, ele não pode prescindir dos questionamentos fundamentais de toda pessoa humana, que constituem o próprio fundamento da sociedade.

Ensino Religioso é a disciplina à qual se confia, do ponto de vista da escola leiga e pluralista, a indispensável educação da religiosidade. Observa-se a necessidade de se superar uma posição monopolista e pros elitista, para que haja uma autêntica educação da religiosidade inserida no sistema público de educação em benefício do povo.

“Pela primeira vez, pessoas de várias tradições religiosas, enquanto educadores conseguiram encontrar o que há de comum numa proposta educacional que tem como objeto de estudo o transcendente.” (Parâmetros Curriculares Nacionais). É certo, alguns comemoram como uma grande conquista a sua aprovação em lei, porém ninguém pode negar a complexidade e seriedade desta questão.

Então será mesmo a aprovação do Ensino Religioso uma conquista? Ou estaria havendo, como muitos alegam uma confusão de papéis: escola/igreja, ciência/religião, público/privado?

Para o Ensino Religioso, inicia-se uma nova fase da história, pois foi aprovada uma nova lei que o constitui, agora em uma disciplina com todas as propriedades, enquanto tal. Isto significa que o Ensino Religioso não se dá mais no processo linear como foi concebido até recentemente, mas por meio de articulações complexas num mundo pluralista e multiforme, pois é nela e a partir dela que se inicia o processo. A LDB nos diz que:

A grande novidade é que o Ensino Religioso deverá ser tratado como disciplina do sistema de ensino, cujos conteúdos deverão primar pelo conhecimento religioso que forme consciências e atitudes anteriores a qualquer opção religiosa. (JOEL DE HOLANDA, PE).

Substitutivo ao Projeto de Lei nº 2.757, de 1997. (Dá nova redação ao artigo 33 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.) O Congresso Nacional decreta: Art. 33 – O ensino religioso, de matricula facultativa é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

1° - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.

2° - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.

É preciso esclarecer e renovar o conceito de ensino religioso, da sua prática pedagógica, da definição de seus conteúdos, natureza e metodologia adequada ao universo escolar, como propõem os Parâmetros Curriculares Nacionais.

Para a compreensão da razão de ser é preciso partir de uma concepção de educação que a entenda como um processo global, integral, enfim, de uma visão de totalidade que reúne todos os níveis de conhecimento, dentre os quais está o religioso.

O ser humano busca dar significado a sua existência e ao longo da história, vem aperfeiçoando as mais variadas formas de relacionamento com a natureza, com a sociedade e com o transcendente, desenvolvendo conhecimento, possibilitando sua interferência no meio em que vive e em si próprio, tem a capacidade de integrar-se de modo mais abrangente, com isso a ação humana consiste em tornar a transcendência sua companheira de todas as etapas de seu desenvolvimento. Portanto toda a raiz cultural está na Transcendência, resultando daí um processo ininterrupto de acúmulo de conhecimento.

É a partir do conhecimento religioso que se possibilita uma compreensão de ser humano como finito. Na finitude se procura fundamentar o fenômeno religioso, tornando o ser humano capaz de construir sua própria liberdade.

A escola é um espaço de construção de conhecimento e principalmente de socialização dos conhecimentos historicamente produzidos e acumulados. De fato, o conhecimento é patrimônio da humanidade, portanto o conhecimento religioso deve estar disponível a todos os sedentos por cultura, a fim de possibilitar uma visão mais globalizada. Deve-se ajudar o educando a adquirir instrumentos universais que o auxilia na superação das contradições em respostas isoladas, procurando dar coerência à sua concepção de mundo.

A escola tem a função de ajudar o educando a se liberar de estruturas repressoras que o impedem de produzir e avançar, abrindo o caminho para a outra dimensão humana que é a fé. Por outro lado, o processo de aprendizagem fundamenta-se na busca do saber e no desejo da transcendência.

O educador naturalmente vive a reverência da alteridade e leva em consideração os espaços privilegiados da família e comunidade religiosa para a vivência religiosa e opção de fé.

A educação escolar possibilita, historicamente, o acesso ao conhecimento produzido pela humanidade e ao mesmo tempo acresce na cultura do indivíduo através de valores e atitudes num processo de desenvolvimento global, entre educadores e educando. Através dela, o aluno integrar-se dentro de uma visão de totalidade, onde compreende os vários níveis de conhecimento como, o sensorial, o intuitivo, o afetivo, o racional e o religioso.

O conhecimento religioso está no substrato cultural. Ele contribui para a vida coletiva dos educandos na perspectiva unificada que a expressão religiosa tem, de modo próprio e diverso, diante dos desafios e conflitos.

Para vivermos democraticamente em uma sociedade pluralista é preciso respeitar as diferentes culturas e grupos que a constituem. Um dos grandes desafios da escola é valorizar, e reconhecer, a trajetória particular de cada grupo que compõe a sociedade.

O Ensino Religioso não deve fugir desta regra, mas sim aprender a conviver com diferentes culturas religiosas, vivenciando a própria cultura e respeitar as diferentes formas de expressões culturais, com isso o educando está também se abrindo para um conhecimento mais amplo, compreendendo assim o significado de fé e refletindo as atitudes morais diferenciadas claramente no seu cotidiano.

Certamente as experiências individuais resultam em respostas diferentes. Mas com certeza, muitas pessoas não se atentam para a importância do assunto.

GAARDER, em seu “O livro das religiões”, nos ajuda a responder às perguntas assim:

Um rápido olhar para o mundo ao redor mostra que a religião desempenha um papel bastante significativo na vida social e política de todas as partes do globo. Ouvimos falar de católicos e protestantes em conflito na Irlanda no Norte, cristão contra muçulmanos nos Bálcãs, atrito entre muçulmanos e hinduístas na Índia, guerra entre hinduístas na índia, guerra entre hinduístas e budistas no Sri Lanka. Nos Estados Unidos e no Japão há seitas religiosas extremistas que já praticaram atos de terrorismo, Ao mesmo tempo, representantes de diversas religiões promovem ajuda humanitária aos pobres e destituídos do Terceiro Mundo. É difícil adquirir uma compreensão adequada da política internacional sem que se esteja consciente do fator religioso. (GAARDER, 2000, p.14).

Além disso, explica GAARDER, um conhecimento religioso também pode ser útil num mundo que se torna cada vez mais multicultural. Ainda mais falando-se em globalização, apesar de que o termo deva ser usado com muito cuidado.

Nota-se a tolerância religiosa como um ponto importante, pois deve ser mantido o respeito pelas pessoas e diferentes pontos de vista de cada religião. Isso não significa concordar com as práticas de outras religiões e seguir os mesmos rituais. Cada cidadão tem o direito de seguir o que é melhor para si. A tolerância não é compatível com atitudes como zombar das opiniões alheias ou se utilizar de força e de ameaças. “A tolerância não limita o direito de fazer programa, mas, exige que se respeite a opinião do outros”. (GAARDER, 2000, p.15).

O respeito pela vida religiosa, dos outros, pelas suas opiniões e pontos de vista, é um pré-requisito para aulas de cultura Religiosa. Sem isso, é impossível começar, pois:

Com frequência, a tolerância é resultado do conhecimento insuficiente de um assunto. Quem vê de fora uma religião, enxerga apenas as suas manifestações, e não o que elas significam para o indivíduo que a professa. (GAARDER, 2000, p.15)

É importante ressaltar a questão da tolerância. Religião sem o devido respeito perde o sentido. Sabe-se que não é possível pregar algo e praticar outra coisa. Por outro lado, a experiência religiosa é importante na vida de cada ser humano.

 

Conclusão

A referida pesquisa buscou analisar a concepção do educador no Ensino-Aprendizagem de Ensino Religioso e o comprometimento dos mesmos, por ser um desafio didático-pedagógico que está presente nos dias atuais, no cotidiano escolar e na sociedade como um todo.

Toda a ação docente depende das concepções, atitudes e práticas do professor, ele é o mediador e ao realizar sua pratica docente deve preocupar-se com todo o processo, a programação das atividades, o acompanhamento aos alunos, à metodologia, a sequência lógica com significação para a vida e a motivação. É válido ressaltar que a aprendizagem depende de vários fatores entre eles destacam-se a relação professor x aluno, a metodologia utilizada, o aspecto emocional, as condições de trabalho e a afetividade.

A constante busca profissional, a prática docente qualificada, a ação-reflexão-ação em sala de aula, a busca da verdade, o desejo da mudança e do conhecimento, a superação das dificuldades, são fatores que quando empregados o aluno é o maior beneficiário do ensino de qualidade.

Em síntese, um trabalho bem empregado na escola, por professores, juntamente com o apoio dos alunos, tem como resultado uma educação de qualidade.

 

Referências

CATÃO, Francisco. O Fenômeno Religioso, São Paulo, Editora Letras & Letras, 1995

 

GAARDER, Jostei, Hellern, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Cia. Das letras, 2000.

 

LDB, Lei n 2.757, de 1997 artigo 33 da Lei 9394, de 20 de setembro de 1997.

 

Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. 1996

 

HAAG, Nereu. Questões fundamentais de ética aplicada. In: KUCHENBECKER, Valter. O homem e o sagrado. Canoas: Editora da Ulbra, 2000.

 

HAMACHECK, Dom E. Encontros com Self, influência e interação social, 2ª ed Rio de Janeiro interamericana, 1979.



[1] Graduada em Pedagogia pela UPF e pós-graduada em Educação inclusiva LATO SENSU pelo IESD e Ciências da Religião pela Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro.